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| Desenho: Ismênia Nunes | 
Em
    13 de maio de 1926, o governo catarinense entregou ao tráfego de veículos e
    pedestres a ligação rodoviária entre a Ilha de Santa Catarina e o Continente,
    uma gigantesca obra de engenharia, calculada pelo governador Hercílio Luz como
    a solução para os problemas de integração entre a capital, até então restrita à
    parte insular, e as demais regiões do Estado.
Com
    a “Ponte da Independência”, nome que mais tarde foi alterado para Hercílio Luz
    em homenagem ao seu construtor (falecido em 1924), o governo catarinense
    imaginava superar as pressões de forças políticas interioranas que pretendiam a
    transferência da Capital para uma área no planalto serrano, localizada no
    centro do Estado.
Quando
    inaugurada em 1926, a Ponte Hercílio Luz teve o significado afirmativo e
    político de manter a capital em Florianópolis, condição adquirida em 1823, por
    decreto imperial, quando a cidade ainda se chamava Desterro. E, de fato, a
    capital da Província abrangia a Ilha de Santa Catarina e seus arredores (São
    José da Terra Firme, hoje São José, e São Miguel da Terra Firme, hoje Biguaçu),
    pelo menos até 1833, ano em que as duas freguesias também foram elevadas à
    condição de município.
Ferrovia
A
    principal questão que envolveu a construção da Ponte Hercílio Luz foi vinculada
    à integração estadual. Originalmente, o governador que bancou o empreendimento,
    e que tinha a engenharia como profissão, imaginava uma ligação ferroviária
    entre a capital e o planalto serrano. 
É
    importante lembrar que naqueles tempos a indústria automobilística ainda era
    incipiente e restrita. Uma viagem entre Florianópolis e a serra demorava ao
    menos dois dias, realizada em geral com veículos de tração animal. Assim, a
    possibilidade de uma ferrovia era a forma mais viável para promover a
    integração, naquele momento. 
Mas
    o que Hercílio Luz pretendeu nunca se concretizou. E hoje, passados quase 90
    anos de sua morte, é que se vislumbra a possibilidade de se tornar realidade
    aquele sonho, em face do projeto da ferrovia Leste-Oeste, que se encontra em
    discussão no âmbito federal.
Abastecimento
Desde
    os primeiros tempos, a Ponte Hercílio Luz possibilitou não apenas a 
passagem de
    veículos e pedestres, mas, principalmente, o abastecimento comercial
 da capital
    catarinense, que até 1926 era realizado apenas por barcos. Em São 
José, que representava toda a parte continental frontal à área central 
da Ilha de Santa
    Catarina, ficavam os principais entrepostos de produtos comerciais, 
inclusive o
    de alimentos.
A
    intensificação do tráfego de veículos aconteceria apenas após a década de 1930,
    quando os moradores mais abastados da região passaram a adquirir os primeiros
    automóveis. Data daquele tempo também a implantação das linhas de ônibus
    pioneiras, ligando basicamente o distrito de João Pessoa (hoje Estreito) ao
    centro da capital.
Mais território
Dezoito
    anos após a inauguração da Ponte Hercílio Luz, o então interventor federal no
    Estado, Nereu Ramos, determinou, por decreto, a reanexação de parte da região
    continental, pertencente ao município de São José, a Florianópolis. Contribuiu
    para o fato não apenas o reduzido espaço territorial da capital, restrita até
    1944 à Ilha de Santa Catarina, mas também o crescimento populacional de
    Florianópolis. Naquela época, os governantes já entendiam que a expansão urbana
    seria indispensável. Assim, a recuperação do território foi calculada e
    estratégica, motivada fundamentalmente pela própria existência da Ponte
    Hercílio Luz, como ponto de ligação entre a ilha e o continente.
Saturação
A
    relativa popularização dos automóveis, a partir da implantação da indústria
    automotiva nacional (década de 1950), possibilitou o acesso de mais brasileiros
    à compra de veículos. O crescimento da frota, e principalmente do transporte
    individual, motivou a implantação e a ampliação de sistemas viários nas
    cidades.
Por
    ser uma cidade antiga, com ruas estreitas e razoável ocupação urbana,
    Florianópolis não suportou à explosão do mercado automobilístico. Já na metade
    da década de 1960 a Ponte Hercílio Luz demonstrava sinais de saturação, porque
    nem ela, nem os sistemas de acesso, foram projetados para a massificação do
    trânsito de veículos.
Para
    agravar ainda mais a questão, no final daquela década, o governo brasileiro
    recebeu uma advertência do governo norte-americano em função da queda de duas
    pontes similares naquele país. O governo catarinense, avisado, tomou as
    primeiras providências ainda em 1969, mas a solução só seria viabilizada pelo então
    governador Colombo Machado Salles, a partir de 1971. Engenheiro, especializado
    em navegação, aterros e canais, Salles assumiu o comando da execução do projeto
    de implantação do Aterro da Baía Sul e de construção da segunda ponte,
    inaugurada em 1975, que acabou levando o seu nome.
A
    terceira ligação ilha-continente seria inaugurada apenas em março de 1990, batizada
    com o nome de Pedro Ivo Campos, Governador falecido no início daquele ano e que
    iniciou a construção. Na verdade, a terceira ponte é a complementação da
    segunda, pois integrava o projeto original e só não foi executada na década de
    1970 porque não havia recursos financeiros para tal.
Fonte: Fundação Catarinense de Cultura